quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

QUERO TUDO





Queria que só a compatibilidade de nossos discursos me satisfizessem. Mas não aguento. Quero ouvir tudo que você fala, mas também te calar a boca e me comunicar em outra língua. Não quero ler seus suspiros e vontades se não puder vivenciá-los. Meu combustível é a experiência e de você quero provar tudo. Ver diretamente, sem interferências se você é mesmo o que diz. E me deliciar detalhadamente se isso for real; te dissecar por inteiro. Intrusa. Intrínseca.

sábado, 8 de novembro de 2014

FISSURA





Fissura
Urra 
Em mim. 
Berro alto 
Do ponto 
Mais baixo 
Do meu corpo. 
Gritam meus lábios 
Da parte sul 
Por seu gosto 
Desconhecido 
De território novo 
Onde desejo 
Explorar. 

Te tirar
Seus silêncios 
Profanos. 
Seus sonos 
Profundos 
Sua concentração. 
Fiz tua 
Minha fuga 
Urgente 
Febril 
Translúcida. 
Transcorre 
Pelos meus meios 
Agora 
A agonia infinda 
Líquida 
Da minha excitação.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

a dança da solidão





Me enjoa ficar sem você ao toque das minhas mãos. Dentre a infinidade de dedos que poderia entrelaçar, não consigo me ver segurando outros que não os seus. Há algo de mágico que não sei explicar quando sinto seu corpo, tenho febre. Caio de cama pra não levantar, como se você trabalhasse num truque pra me enfeitiçar sorrateiramente em cada encontro nosso. Ao mesmo tempo, sem explicações, você encontra até agulha no palheiro pra me repelir. Você dança comigo sem parar, indo e voltando, me puxando pra você e me empurrando para trás. Me pergunto, mais uma vez, o que me encanta tanto na dor pra que eu permaneça nessa dança mesmo com os pés cansados? E o que você me dá de sobra que falta no resto no mundo? Já sofri de não-amores que me machucaram muito ao partir, mas no fundo, nunca duvidei de que a partida era o que de melhor poderia ganhar, mas e agora que sofro de amor, devo agradecer a alguém por ter amado? Te devo um obrigado e um cartão de parabéns por ter me feito água nas suas mãos? Por ter me mostrado que mesmo depois do medo, depois do escuro, depois do orgulho, ainda assim iria deitar aos seus pés, trançar seus cabelos, sorrir e calar? O que eu te devo por provar que ao contrário do que todos diziam foi sim possível fazer eu me apaixonar por você? Calma, não vou te fazer essas perguntas, sei que você tem medo de tudo que não consegue explicar, aí corre, tenta afastar. Ou não. Ou talvez o problema seja eu achando que sei de tudo quando nem sei quem você é, mas não me importa, só me conta... Me conta qualquer coisa sobre o seu dia chato, me deixa olhar você dormindo por horas... Só deixa... Só para de querer me deixar. Só.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A marca do meu não é minha mordida mais voraz




Eu mordo os dedos pra me manter aqui. Morde e não assopra, me deixa sentir o ardor. Deixa eu controlar minha boca pra ignorar você. Negar suas palavras. Palavras e silêncios que jamais se encontrarão? Por que eu me prendo com os dentes para não encontrar sua boca? Ainda que compartilhemos a mesma garrafa de cerveja, o mesmo fumo... O que impede de ir mais fundo? E por que, ainda assim, me mordendo para não te encontrar faço questão de estar a par da sua vida, comum como a minha? Dos seus sonhos, altos como os meus? Como é que eu falo tanto e calo o que mais quero? Eu mordo os dedos, os lábios e a língua pra me manter sóbria ao seu lado, e ficar, mas mesmo lúcida, mesmo marcada e calada eu vou. Não serviram de nada as minhas marcas de dente na mão, só de lembrança da força que faço para não cogitar você as mordendo. Minhas mordidas não serviram de nada e agora as marcas vem carregadas de uma lembrança de mais vontade que repulsa.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O navegar no oceano é sempre novo, ainda que já navegado





Quero que passeie por mim com dedos leves e curiosos. Com o medo e a vontade de menino que pela primeira vez é apresentado ao amor. Entrego-te meu corpo desnudo e leve para experimentá-lo sem pressas ou pressão. Engana-se quem acha que amor bom só se consegue pela força. Espero que tenha calma e atenção quando encostar no meu corpo com o seu, pois faço questão de que amemos surdos, quero me privar dos seus gemidos e você dos meus. Concentrando-se no silêncio, verá que o corpo fala sem gritos e mostra seus maiores desejos sem mapas. Não gostaria de resumir nosso amor a uma navegação antiga onde navios se guiam por bússolas para chegarem com precisão na terra desejada. Gosto que vá me navegando sem rota para um destino indeterminado. Gozo da surpresa de um novo sentir em lugares não habitados. Feche seus olhos ao vir me amar, para que a visão do meu corpo se juntando ao seu não seja maior que o prazer de seu toque ao sentir meus pelos eriçados. Sejamos visionários e lunáticos buscando algo extra-corpóreo-sensorial, delicado e sensual mas vibrante e nervoso como toda primeira vez que se mistura vontade e espera, pele e alma.

sábado, 25 de outubro de 2014

Os impulsos do inconsciente ativo: karma, cama, alma, carne




Não sei escrever bonito, 
Ou fantasiar a tristeza, 
Quando tudo que me roda me assusta.
 Me enjoa.
 Me atordoa.

 Pensar que parte sua
 Você quis não repartir comigo.
 Pesar 
Que o que eu sou não basta
 E você, bem ou mal,
 Se castra, 
Pra ser fiel à sua ideia de amor à mim.

 Preferia ser só carne em liquidação,
 Qualquer pedaço alheio que não valesse nada.
 Vale-refeição
 Que você come,
 Sem importância, 
Num dia qualquer.

 Por você; 
Acreditei num nós incoerente,
 Você me vendo através do mundo,
 Alguém pra se acender velas num jantar romântico.

 Até apagar as luzes...
 Mostrar o outro lado da moeda.
 Seus outros quereres.

 Não te culpo, 
Ou desculpo,
 Por não querer só eu.

 Só que o que faço agora,
 Com meu pedaço de carne, 
De karma, de alma
 Que em pratos limpos,
 E em noites calmas,
 Te entreguei de bandeja?

 Você tem fome,
 Eu entendo...
 Como se satisfazer só com o pedaço,
 Cheio de nervos, 
Sangrando de medos
 E erros 
Que sou?

Pequenos conselhos irrelevantes de quem enxerga de cabeça pra baixo




Se é pra viver que se viva. Que se foda. Que se ame loucamente. Que se chore do amanhecer ao escurecer. Que se cure. E recupere a dor. E que possa, vez em quando, dormir em paz. Mas sobretudo, que se deixe ir. Profunda e intensamente pra onde a vida gritar. 

domingo, 28 de setembro de 2014

o caminho para o amor é mais embaixo




Ele começou a me descer com a língua, como um mapa. Passou pelos morros, meus seios, e continuou descendo, como à procura do mar. Depois de passeios por ilhas, achou o mar. Veio me beber inteira. Começou lambendo pelas bordas, meu lado mais externo. Começou a se aprofundar com sua saliva e seu desejo. Inteira. Você queria ser Deus pra mim naquela hora. Deus, um prazer, uma plenitude, um gozo profundo, o preenchimento. Você continuava a me enlouquecer com os movimentos suaves mais contínuos da sua língua. Para cima. Para baixo. Inúmeras vezes. Até ver q me possuía, que meu corpo já estava entregue. Você vai, e como quem me mata um pouco, continua. Chego no ápice. O querer. O parar. Você me mata lentamente quando tira a possibilidade de eu achar tanto prazer quanto naquela hora em outro lugar, em qualquer circunstância. Você continua escavando com a língua todas minhas entradas. Não há saída para mim. Me entrego, por fim, aos segundos efêmeros de gozo intenso.

N'N's





Foi um dia bom. Um planeta bem pequeno, feito de pedras da lua, quartzos e cristais, que refletia milhares de cores quando iluminado pelo Sol de seu sistema, foi descoberto. Por ser habitado por apenas dois seres recém saídos do planeta Terra, que ainda guardavam na memória seus nomes terrestres começados com a letra "N", foi nomeado de "N'n's". Com o tempo, os dois seres que ali viviam começaram, naturalmente, a esquecer os nomes e datas. Era irrelevante para eles  e para o planetinha prateado-arco-íris. Não existiam informantes, revistas ou tele-jornais, de modo que nomear e datar acontecimentos era muito supérfluo. Os seres se locomoviam nus.
Amanheciam e saíam para explorar estrelas vizinhas e ouvir os silêncios musicais da imensidão de sua galáxia. Voltavam montados em cometas que faziam seus corpos vibrarem. Ou simplesmente exploravam as grandes quedas d'água que encontravam ao sair, de mãos entrelaçadas, à explorar os cantos mágicos daquele planeta tão simples e misterioso. Também passavam horas, se o tempo lá fosse contado assim, a rolar nas areias coloridas -sobras de minúsculos pedaços das rochas da região- ou colorir os corpos um do outro com elas. Outra atividade recorrente dos seres era subir no pico mais alto do planeta, o mais brilhante (já que o sol nunca deixava de bater lá), e dançar flutuantes e leves...
Já nas horas menos iluminadas, os seres gostavam de seguir o caminho encantado por vaga-lumes coloridos, espécie nunca vista no planeta Terra, e chegar nas grandes piscinas de águas termais cristalinas (provenientes de um vulcão já extinto, que deixara apenas sua beleza e o calor de seu interior), lá banhavam-se e podiam ver todas as camadas do planeta, já que as piscinas eram feitas de rochas de cristais transparentes. Aproveitavam para vislumbrar os peixes-borboletas que lá moravam e tinham cores fosforescentes fortíssimas -pequenas velas coloridas que nadavam. Mergulhavam profundamente nessas piscinas e era um dos melhores lugares para se anoitecer praticando as delicadezas fluidas e inefáveis do amor. Amavam-se até que voltasse a amanhecer ou que o corpo, exausto de vontade e entrega, adormecesse boiando nas águas.

sábado, 27 de setembro de 2014

A MÁQUINA DO FUTURO





Isso sim que eu queria, que deveria ser inventado: uma máquina para passar sensações. Nem que por alguns segundos. O outro dentro de você e você dentro dele. Como um s como um oito. Como um coito. Um gozo compartilhado. Nem que por alguns segundos.....

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

diário imaginário d'um domingo de entrelinhas e afirmações adocicadas






Apaga a luz pra eu te olhar no escuro com as mãos.
Quero percorrer você de A à Z infinitas vezes por demoradas horas.
Brincar com seus cabelos, te calar com beijo, trancar o mundo lá fora.
Chega mais perto.
Chega em mim
Que chego junto.
Sussurro baixinho em seu ouvido minha respiração,
até que eu perca o ar,
ou mesmo perca o chão.
Mas tanto faz,
escolhi viver no sonho que a gente inventou
Hoje,
nesse Domingo,
tão bom comigo,
me presenteando com você,
o melhor pedaço
da melhor loucura que faço.
Diariamente.

sábado, 13 de setembro de 2014

HÁ CURA (?)


Me chamaram de louca, preferi não argumentar para não comprometer. De repente estava engolindo milhares de pílulas para voltar à lucidez. Tudo secou: meus choros, meus lábios, meu sexo. Enfim sã, quase santa. Todos se emocionaram com minha cura, mas engraçado, só eu não sorri.

ALOLCURAR

A.lol.curar: -se entregar a loucura; -rir alto de forma obsessiva e paranoica diante de situações normais; -ato de curar-se da loucura alucinando.
* O verbo surgiu da mistura da gíria americana "Lol" (Laughing out loud) com o substantivo da língua portuguesa "loucura", terminando por virar um neologismo verbal abrasileirado.