domingo, 28 de setembro de 2014

o caminho para o amor é mais embaixo




Ele começou a me descer com a língua, como um mapa. Passou pelos morros, meus seios, e continuou descendo, como à procura do mar. Depois de passeios por ilhas, achou o mar. Veio me beber inteira. Começou lambendo pelas bordas, meu lado mais externo. Começou a se aprofundar com sua saliva e seu desejo. Inteira. Você queria ser Deus pra mim naquela hora. Deus, um prazer, uma plenitude, um gozo profundo, o preenchimento. Você continuava a me enlouquecer com os movimentos suaves mais contínuos da sua língua. Para cima. Para baixo. Inúmeras vezes. Até ver q me possuía, que meu corpo já estava entregue. Você vai, e como quem me mata um pouco, continua. Chego no ápice. O querer. O parar. Você me mata lentamente quando tira a possibilidade de eu achar tanto prazer quanto naquela hora em outro lugar, em qualquer circunstância. Você continua escavando com a língua todas minhas entradas. Não há saída para mim. Me entrego, por fim, aos segundos efêmeros de gozo intenso.

N'N's





Foi um dia bom. Um planeta bem pequeno, feito de pedras da lua, quartzos e cristais, que refletia milhares de cores quando iluminado pelo Sol de seu sistema, foi descoberto. Por ser habitado por apenas dois seres recém saídos do planeta Terra, que ainda guardavam na memória seus nomes terrestres começados com a letra "N", foi nomeado de "N'n's". Com o tempo, os dois seres que ali viviam começaram, naturalmente, a esquecer os nomes e datas. Era irrelevante para eles  e para o planetinha prateado-arco-íris. Não existiam informantes, revistas ou tele-jornais, de modo que nomear e datar acontecimentos era muito supérfluo. Os seres se locomoviam nus.
Amanheciam e saíam para explorar estrelas vizinhas e ouvir os silêncios musicais da imensidão de sua galáxia. Voltavam montados em cometas que faziam seus corpos vibrarem. Ou simplesmente exploravam as grandes quedas d'água que encontravam ao sair, de mãos entrelaçadas, à explorar os cantos mágicos daquele planeta tão simples e misterioso. Também passavam horas, se o tempo lá fosse contado assim, a rolar nas areias coloridas -sobras de minúsculos pedaços das rochas da região- ou colorir os corpos um do outro com elas. Outra atividade recorrente dos seres era subir no pico mais alto do planeta, o mais brilhante (já que o sol nunca deixava de bater lá), e dançar flutuantes e leves...
Já nas horas menos iluminadas, os seres gostavam de seguir o caminho encantado por vaga-lumes coloridos, espécie nunca vista no planeta Terra, e chegar nas grandes piscinas de águas termais cristalinas (provenientes de um vulcão já extinto, que deixara apenas sua beleza e o calor de seu interior), lá banhavam-se e podiam ver todas as camadas do planeta, já que as piscinas eram feitas de rochas de cristais transparentes. Aproveitavam para vislumbrar os peixes-borboletas que lá moravam e tinham cores fosforescentes fortíssimas -pequenas velas coloridas que nadavam. Mergulhavam profundamente nessas piscinas e era um dos melhores lugares para se anoitecer praticando as delicadezas fluidas e inefáveis do amor. Amavam-se até que voltasse a amanhecer ou que o corpo, exausto de vontade e entrega, adormecesse boiando nas águas.

sábado, 27 de setembro de 2014

A MÁQUINA DO FUTURO





Isso sim que eu queria, que deveria ser inventado: uma máquina para passar sensações. Nem que por alguns segundos. O outro dentro de você e você dentro dele. Como um s como um oito. Como um coito. Um gozo compartilhado. Nem que por alguns segundos.....

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

diário imaginário d'um domingo de entrelinhas e afirmações adocicadas






Apaga a luz pra eu te olhar no escuro com as mãos.
Quero percorrer você de A à Z infinitas vezes por demoradas horas.
Brincar com seus cabelos, te calar com beijo, trancar o mundo lá fora.
Chega mais perto.
Chega em mim
Que chego junto.
Sussurro baixinho em seu ouvido minha respiração,
até que eu perca o ar,
ou mesmo perca o chão.
Mas tanto faz,
escolhi viver no sonho que a gente inventou
Hoje,
nesse Domingo,
tão bom comigo,
me presenteando com você,
o melhor pedaço
da melhor loucura que faço.
Diariamente.

sábado, 13 de setembro de 2014

HÁ CURA (?)


Me chamaram de louca, preferi não argumentar para não comprometer. De repente estava engolindo milhares de pílulas para voltar à lucidez. Tudo secou: meus choros, meus lábios, meu sexo. Enfim sã, quase santa. Todos se emocionaram com minha cura, mas engraçado, só eu não sorri.

ALOLCURAR

A.lol.curar: -se entregar a loucura; -rir alto de forma obsessiva e paranoica diante de situações normais; -ato de curar-se da loucura alucinando.
* O verbo surgiu da mistura da gíria americana "Lol" (Laughing out loud) com o substantivo da língua portuguesa "loucura", terminando por virar um neologismo verbal abrasileirado.